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O Governo Sartori e os interesses da RBS




Baratas tontas? Nem todas


Antônio Escosteguy Castro

Nas páginas de Zero Hora, o Governo Sartori é uma usina de idéias, projetos e ações. Todo dia é “ produtivo” e na segunda-feira, dia de grande tiragem por causa da cobertura do futebol do fim de semana, a manchete invariavelmente é um prognóstico positivo sobre o governo estadual.

Mas na prática quase nada tem sido feito e a sensação geral é a de paralisia do governo frente à crise e à complexa conjuntura econômica e política. E, mais, os sinais que constantemente vazam do Piratini pela imprensa acerca das medidas a serem tomadas são confusos e contraditórios, demonstrando uma falta de clareza sobre os caminhos a trilhar.

Um bom exemplo são as anunciadas concessões dos Parques Zoológico e de Itapuã. A concessão de parques à iniciativa privada torna-se rentável (condição para ser um processo atrativo) pela exploração intensiva do mesmo. Ora, um Zoológico não é uma área estratégica do estado e se pode imaginar sua exploração privada sem maiores conflitos.

Mas a exploração intensiva de um parque de preservação ambiental é um contra-senso. E ambos são equipamentos periféricos e de baixo custo, sem impacto expressivo no alegado déficit. Que linha se pode deduzir destas propostas?

Algumas outras propostas são bastante razoáveis , como a de elevação do imposto sobre doações e heranças e a revisão dos benefícios do Fundopem , particularmente quanto às empresas que não cumpriram com as metas de emprego e ampliação dos negócios. Mas é bastante questionável que Sartori tenha apoio político em sua base para efetivá-las.

A FIERGS já iniciou a campanha pública contrária, colada no repúdio à proposta de elevação geral do ICMS , esta sim um equívoco. Desde o governo Olívio , ainda no século passado, quando inutilmente se tentou uma reforma tributária interna ao estado , os estudos técnicos mostram que não é eficaz elevar o ICMS “a varrer”, mas sim diferenciadamente por setores mais ou menos produtivos e rentáveis. Não se consegue ver uma política tributária clara no Governo Sartori.

Não há dúvida, porém, que os servidores serão penalizados com o ajuste, embora, com o receio do governo de uma reação parecida com a do Paraná, ainda não se saiba o quanto. Mas uma parte considerável da conta ficará a cargo dos trabalhadores.

As incertezas e hesitações do governo atiçam o lobby dos vários setores econômicos e sociais que lucrariam com esta ou aquela medida que pode vir a ser tomada. Aqui, o exemplo mais claro é a luta do Grupo RBS pela privatização de ativos estaduais e agora pela concessão de estradas , inclusive as federais situadas aqui no Rio Grande.

A situação do Grupo RBS é bastante delicada. A Operação Zelotes, fora suas consequências penais, expôs uma dívida fiscal milionária para a qual não há mais a perspectiva de uma redução substancial. 

Some-se, agora, o escândalo FIFA. Mesmo com toda a blindagem da mídia e da Polícia Federal (como explicar que o inquérito sobre Ricardo Teixeira estava concluído há 5 meses , parado numa gaveta?) será difícil que o escândalo não chegue à Globo e abale seu domínio sobre o rentabilíssimo (para ela) futebol brasileiro. 

O respeitado jornalista Paulo Nogueira, do site Diário do Centro do Mundo, calcula que o lucro líquido da Globo com a Copa de 2014 superou os 500 milhões de dólares. J. Hawila, empresário brasileiro pivô do escândalo nos Estados Unidos, responsável pela intermediação da venda dos direitos de transmissão e que já topou devolver 500 milhões de reais de propinas ao FBI , é dono de uma retransmissora da Globo e sócio da família Marinho.

É pouco provável que o império da Globo sobre o futebol brasileiro saia incólume deste imbróglio e isto certamente terá efeitos devastadores sobre o faturamento da Rede e de suas afiliadas que, aliás, têm no futebol um de seu pontos fortes. 

A RBS precisa de dinheiro novo e rápido. É de suprema ironia verificar que a situação da RBS neste momento talvez seja pior que a do PT, que ela tanto ataca. Quando se abre a Caixa de Pandora…

A privatização de ativos é uma forma rápida de injetar dinheiro novo no setor privado e para isto há verdadeiras jóias no Rio Grande do Sul, como a CEEE Geradora (que podia ser fatiada no curso da atual renovação da concessão da empresa), a fragmentação do Banrisul e a municipalização dos serviços de tratamento de água e esgoto. 

Mas é o pedagiamento de uma dezena de trechos de estradas que mais chama atenção agora. Ainda que pela fórmula do governo federal que, diferentemente do modelo ultra-empresarial de Antonio Britto, privilegia o oferecimento da menor tarifa, as concessões criariam várias mega-empresas, de alto faturamento, ávidas por sócios locais.

Os gigantes em dificuldades (além da RBS, a Gerdau também enfrenta uma dívida bilionária na Operação Zelotes) precisam deste sangue novo para recuperar suas contas.

Assim, muito embora o Governo esteja perdido e indeciso, há muita gente neste estado que sabe bem o que quer e o que espera que o Piratini faça.

Antônio Escosteguy Castro é advogado.


Postado no Sul21 em 04/06/2015


rbs






Governo Sartori 100 dias









A tragédia da cartografia proposta pela RBS




Sandro Ari Andrade de Miranda


O filósofo estadunidense Marshall Berman utilizou uma frase famosa do Manifesto do Partido Comunista de Karl Marx para definir com precisão o movimento da pós-modernidade: “tudo o que é sólido, se desmancha no ar”.

Se transferirmos esta simples frase para a realidade do cotidiano do nosso noticiário de imprensa, não encontraremos síntese mais precisa. 

Todos os dias são criados escândalos, tragédias, heróis e vilões, que surgem e desaparecem de uma hora para a outra. Na maior parte das vezes não há precisão, não há conteúdo, apenas a necessidade de vender manchetes e manter a sobrevivência de um conjunto de editoriais tão vazios quanto o conteúdo de suas matérias.

Tomando como exemplo a obra de outro teórico da pós-modernidade, o sociólogo francês Jean Baudrillard, também podemos afirmar com precisão que vivemos num “regime de simulacros”, de aparências, da comercialização de um mundo virtual que só existe na mente dos diretores das empresas que dominam os meios de comunicação.

Lembro que na primeira vez que visitei o Rio de Janeiro, ou então São Paulo, tinha medo de sair à rua, tamanho era o pânico imposto pelo noticiário de televisão.

Hoje sei que a própria exacerbação da violência urbana também é um simulacro, uma forma de aprisionamento. Pessoas trancadas em apartamentos sem janelas e sem jardins se sentem seguras, e são presas fáceis para o comércio de informações e produtos vendidos na orgia comercial televisiva.

Para quer ir a um estádio com elevado grau de segurança como o Beira-Rio ou a Arena do Grêmio, se podemos comprar a cerveja da moda, o chinelo da moda, e toda uma série de produtos vendidos pela televisão? 

Por que visitarmos um museu, se os canais da Globosat já colocam a sua estética pronta e traduzida dentre das nossas casas? 

O mundo dos sonhos de alguns canais de televisão é a alegoria da caverna de Platão, onde todos seremos aprisionados num espaço para ficarmos traduzindo apenas sombras.

O exemplo maior e mais recente foi a Copa do Mundo, quando setores da imprensa, os quais devem ser sempre nominados para não esquecê-los venderam a imagem de uma país tragédia, onde nada daria certo, e de que o Brasil viveria uma vergonha monumental no maior evento futebolístico da Terra.

Estão os referidos meios de comunicação devemos sempre incluir a Rede Globo, Revista Veja, Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, Revista Época, Zero Hora, e toda uma escumalha de produtos muito corretamente classificados pelo jornalista Paulo Henrique Amorim na precisa sigla PIG (Partido da Imprensa Golpista),

Na prática o que se viu foi que o Brasil realmente passou vergonha, mas dentro do campo, curiosamente no espaço onde estes meios de comunicação exercem o maior poder. 

Fora das quatro linhas a Copa do Mundo foi um sucesso, não ocorreu caos aéreos, a infraestrutura urbana teve diversas obras aceleradas antes do esperado, e o mundo viu o que todos nós já sabemos, que o nosso país é muito melhor e muito mais saudável fora da tela da Rede Globo de Televisão.

Esta pequena introdução serve para colocar uma questão que tenho observado durante o processo eleitoral no Rio Grande do Sul. Se no âmbito nacional as diferenças de projetos já estão escancaradas, aqui ainda reina o simulacro da oposição.

Talvez porque não tenhamos o mesmo potencial competitivo da notícia dos grandes centros, afinal de contas quem manda na notícia no Estado, tanto escrita (Zero Hora), como radiofônica (Rádio Gaúcha), como televisiva (RBS), é sempre o mesmo grupo, a Rede Brasilsul de Telecomunicações, é mais difícil expor a diferença entre o mundo da mídia e a realidade concreta.

Não é por acaso, portanto, que dois funcionários dessa empresa disputem a posição de liderança nas vagas das eleições majoritárias: Ana Amélia Lemos e Lasier Martins. De inovador nada! De diferente nada! De construtivo, absolutamente nada! De concreto, apenas fumaça!

O comentarista do Jornal do Almoço faz um discurso tão asqueroso como o exercido todos os dias na televisão, com o uso de uma linguagem grosseira, que dói aos ouvidos de qualquer pessoal com o mínimo de senso crítico.

Já a atual Senadora apresenta um projeto político discursivo “tão oco” como as suas antigas manifestações como analista política, tão inconsistente como o seu mandato na Câmara Alta do Congresso.

Por isso fica a pergunta, como dois candidatos tão inconsistentes, tão pobres de conteúdo conseguem manter um relativo protagonismo no cenário eleitoral? 

A resposta pode estar na assertiva de Baudrillard, no simulacro!

Lembro que não é a primeira vez que os candidatos da RBS estiveram disputando o Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Antes Antônio Britto e Yeda Crusius já tiveram este privilégio exercendo governos verdadeiramente trágicos.

Não falo de governos ruins, como estamos observando na péssima administração da cidade de Pelotas, mas em governos trágicos mesmo, onde o Rio Grande do Sul andou para trás em relação a todo o seu potencial econômico e social. 

O debate sobre a dívida pública no Estado só existe por dois motivos: 1º) pela péssima negociação realizada por Britto junto à FHC; 2º) pela péssima gestão orçamentária de Yeda Crusius.

Quem viveu a era Britto no Rio Grande do Sul sabe perfeitamente do que eu falo: desemprego em todos os cantos, falta de esperanças, quebradeira das micro e das pequenas empresa, fim da indústria calçadista, falência da agroindústria da Zona Sul do Estado, e uma série de problemas que jogaram a nossa economia para um buraco sem fim. Se hoje a cidade de Rio Grande possui uma economia pujante, com forte potencial de crescimento, no idos de FHC e Britto parecia uma cidade fantasma.

Mas toda essa realidade concreta, vivida por milhões de pessoas desaparece no universo dos simulacros

Os simulacros são anti-históricos, não possuem base real, compõem um mundo vivenciado, mas não vivido. Sua essência é o mundo de Matrix, produzido da obra cinematográfica dos irmãos Wachowski.

Nas imagens de televisão da RBS seus candidatos representam um futuro maravilhoso, onde todo o cidadão poderá adquirir uma cota acionária da CORSAN ou da CEEE (modernamente privatizadas), onde todos poderão viver tranquilos e protegidos por uma polícia tão violenta como a de São Paulo.

Que os “bandidos pobres” serão aprisionados em mega-presídios, como produtores em série de ponteiras de tênis, e os “ricos” estarão devidamente internados em clínicas de reabilitação paradisíacas. 

Que a fome poderá ser suprida com a importação em massa de Big-Macs. Que os congestionamentos poderão ser substituídos pelas linhas e pelos pontos esteticamente precisos dos mapas de controles de tráfego.

O mundo projetado pela RBS e pelos seus asseclas é uma verdadeira “hiper-realidade”, uma vivência falsificada que esconderá a quebra do estado pelo populismo tributário, a demissão em massa de servidores públicos em programas de demissão voluntária, a dilapidação do patrimônio público em processos de privatização. O esquecimento da história é a sua arma principal.

Tamanho é o disparate dos discursos dos candidatos da RBS, ou melhor, da velha e conhecida direita golpista, que a tortuosa Ana Amélia Lemos promete aumentar a receita de investimentos com o corte parcial dos cargos em comissão (grifamos a promessa por tamanha estapafúrdia).

Ana Amélia é uma candidata que somente consegue se sustentar na hiper-realidade construída pelos meios de comunicação que defende. Fincada pelo improdutivo capital financeiro.

Não apresenta nada de construtivo e pior, ainda ameaça todos os avanços conquistados à duras penas pelo Rio Grande do Sul nos quatro anos de Governo Tarso Genro.

Inspirado em Jean Baudrillard posso resumir o desenho do futuro proposto por Ana Amélia na parte final na queda do mapa perfeito criado pelos cartógrafos de José Luis Borges. Quando o mapa caiu, não havia mais espaço para perfeição, mas apenas as ruínas de um passado sonhado:

“… Naquele império, a Arte da Cartografia alcançou tal Perfeição que o mapa duma Província ocupava uma Cidade inteira, e o mapa do Império uma Província inteira. Com o tempo esses Mapas Desmedidos não bastaram e os Colégios de Cartógrafos levantaram um Mapa do Império, que tinha o Tamanho do Império e coincidia com ele ponto por ponto. Menos Dedicadas ao Estudo da Cartografia, as Gerações Seguintes decidiram que esse dilatado Mapa era Inútil e não sem Impiedades entregaram-no às Inclemências do Sol e dos Invernos. Nos Desertos do Oeste perduram despedaçadas Ruínas do Mapa habitadas por Animais e Mendigos; em todo o País não há outra relíquia das Disciplinas Geográficas”.


Sandro Ari Andrade de Miranda é advogado, Mestre em Ciências Sociais.

Postado no site Sul21 em 30/09/2014


Lula, blogs e mentiras do Zero Hora




Luiz Carlos Azenha
 no blog Viomundo

O Tijolaço nos informa que o diário direitista gaúcho Zero Hora teve o seguinte a dizer sobre a entrevista do ex-presidente Lula a blogueiros: “O ex-presidente sentou-se à mesa com pessoas que não têm como oferecer a neutralidade reclamada. Seus ouvintes eram responsáveis por blogs assumidamente governistas, muitos dos quais sustentados por verbas oficiais.”

O Zero Hora, como se sabe, pertence à família Sirotsky, do Grupo RBS, parceiro comercial e ideológico das Organizações Globo (olhem na lista acima) no Sul do país.

Se tivesse feito o trabalho jornalístico que se requer de uma poderosa empresa jornalística, teria descoberto o óbvio: a grande maioria dos blogueiros que entrevistaram o ex-presidente Lula não recebe um tostão sequer de “verbas oficiais”. Basta consultar as informações divulgadas pela Secom, a Secretaria de Comunicação Social ligada à Presidência da República.

Da entrevista participaram Renato Rovai (Revista Fórum e Blog do Rovai), Altamiro Borges (Blog do Miro), Conceição Lemes (Viomundo), Fernando Brito (Tijolaço), Marco Weissheimer (Sul 21 e Carta Maior), Eduardo Guimarães (Blog da Cidadania), Rodrigo Vianna (Escrevinhador), Kiko Nogueira (Diário do Centro do Mundo) e Miguel do Rosário (O Cafezinho).

Posso estar errado, mas dos veículos acima citados só a Carta Maior constava da listagem mais recente a que tive acesso, numa proporção absolutamente compatível com a importância que o site tem para a esquerda brasileira e para o público de esquerda existente no país.

Portanto, além de mentir neste ponto - “muitos dos quais sustentados por verbas oficiais” -, o Zero Hora sonegou de seus leitores outra informação fundamental, se realmente pretendia debater financiamento oficial da mídia e independência editorial.

Sonegou o fato de que o Grupo RBS certamente está na lista dos maiores receptores de dinheiro público dentre, digamos, os 50 maiores grupos de mídia do Brasil, pois recebe dinheiro do governo federal, de governos estaduais e de prefeituras. Se pretendia debater honestamente o assunto, o Zero Hora deveria contar aos leitores quanto exatamente a RBS recolhe em “verbas oficiais”.

O que levaria os leitores a concluir: se o Zero Hora, com todo o dinheiro oficial recebido pelo Grupo RBS, pode se declarar “independente”, por que blogueiros que não recebem um tostão em dinheiro oficial não podem ser independentes? Teriam sido abduzidos pelo lulismo? Hipnotizados pelo petismo?

Por que sonegar dos leitores que os entrevistadores de Lula representam blogues de esquerda, que se contrapõem ao jornalismo de direita do Zero Hora? Ah, sim, porque na cabeça dos editores do diário gaúcho o Zero Hora paira sobre a sociedade, “neutro”. Não é conservador, nem de direita.

Se eventualmente elogiamos medidas do governo, o que nos custa a pecha de “governistas”, sem receber nada em troca, isso deveria ser elogiável: é demonstração de que colocamos convicções políticas adiante de interesses comerciais, algo muito raro no jornalismo de hoje. As convicções políticas da família Sirotsky, aliás, ficam absolutamente explícitas na linha editorial dos órgãos midiáticos do grupo RBS. Por que, então, deveríamos esconder as nossas? Isso não nos dá, nem a eles, o direito de distorcer, manipular ou mentir. Na entrevista de Lula foram tratados todos os temas importantes da conjuntura política atual, da Petrobras ao caso do deputado André Vargas, de Lula candidato à Copa do Mundo. Sem antipetismo doentio, sem pré-julgamentos e dando ao ex-presidente o direito de se expressar.

O Viomundo, como vocês sabem, tem como política não receber “verbas oficiais”, de governos de todas as esferas ou de empresas públicas.

Por que o Zero Hora não adota a mesma diretriz, que contribuiria para cortar os gastos públicos? Quantas creches e hospitais poderiam ter sido construídos com o dinheiro que o Grupo RBS embolsou até hoje em “verbas oficiais”?

Taí um exercício que os editores do diário gaúcho ficam devendo a seus leitores, assim como aos ouvintes e telespectadores do Grupo RBS: um debate honesto sobre o financiamento da mídia.

É óbvio que sabemos exatamente o motivo da chiadeira da família Sirotsky.

Ela se revolta com a perda do monopólio da informação, que até recentemente permitia ao grupo selecionar as notícias “existentes” ou não, os ângulos e as frases pinçadas de uma longa entrevista que permitiam empacotar a sua “versão” dos fatos.

Desculpem, mas a internet acabou com isso: entrevistas longas, em tempo real, ficam imediatamente disponíveis, na íntegra, em rede, permitindo a leitores/ouvintes/telespectadores que fiscalizem eles próprios as distorções, omissões e manipulações tão comuns na mídia corporativa (na mesma tarde da entrevista a assessoria do ex-presidente denunciou que Folha e O Globo haviam adulterado a fala de Lula).

Desde muito antes de Assis Chateaubriand, empresas jornalísticas brasileiras cresceram explorando a capacidade de extorquir dinheiro sob a ameaça de investigar/denunciar/desconhecer autoridades ou empresários; para os que abriram o cofre, em compensação, ficou o benefício do “espaço controlado” para falar à opinião pública.

Quando um líder como o ex-presidente Lula decide falar sem tal intermediação corporativa, paira no ar forte ameaça ao monopólio da palavra que sustenta o jornalismo chantagista.

A ação de Lula ameaça o bolso dos Sirotsky. É disso que se trata.

(Se o Zero Hora se desse ao trabalho de investigar antes de escrever besteira, encontraria críticas ao governo federal/Lula/PT no Viomundo, bastando clicar dentre dezenas de outros lugares aqui, aqui, aqui, aqui ou aqui).

[O Viomundo é sustentado por contribuições voluntárias de seus leitores. Estamos trabalhando nas contribuições involuntárias, mas a grana ainda não deu para comprar o AK47. Torne-se um assinante antes disso!]



A passarela da RBS



PREFEITURA DE PORTO ALEGRE PRIVATIZA ESPAÇO AÉREO PARA BENEFICIAR DONOS DO GRUPO RBS - OBRA FERIU OPERÁRIO E DESTRUIU REDE ELÉTRICA


O mundo maravilhoso dos Sirotsky

Vida real: sai de baixo!

Não bastasse a entrega do Paço Municipal e do Largo Glênio Peres - dois ícones da paisagem porto-alegrense - ao controle de uma multinacional de refrigerantes, a Prefeitura de Porto Alegre, sob o comando de José Fortunati (e de seu antecessor José Fogaça), deu, de mão beijada, o comando do espaço aéreo da capital gaúcha para uma das empresas dos mesmos proprietários do Grupo RBS, no caso, a Maiojama Empreendimentos Imobiliários, braço de concreto do conglomerado da Famiglia Sirotsky (cujo capo é réu na Justiça Federal, acusado pelo MP de crime contra o Sistema Financeiro Nacional).

Para quem não sabe, o nome Maiojama é a sonora mistura dos nomes de MAurício; IOne, mulher de Maurício; JAyme; e MArlene, mulher de Jayme, todos Sirotsky.

Desde o dia 4 de novembro de 2012, quem passa pela Avenida Praia de Belas, na altura do shopping center homônimo, fica estarrecido com a horrenda e ameaçadora passarela suspensa sobre a via, ligando o 3º piso do tradicional centro comercial ao 6º pavimento de um prédio-garagem que está em construção na margem direita da avenida, no sentido bairro-centro.

A instalação cruza sobre a cabeça dos transeuntes a 14,40 metros de altura, em uma extensão de 62 metros. Na verdade, o edifício-garagem (uma aberração arquitetônica com 10 andares) é parte de um complexo "empresarial" que abrigará escritórios e vagas para 1800 carros. Trata-se de mais um empreendimento da Maiojama, que gaba-se por aí de seu portento, "a maior passarela metálica com vão livre da região Sul do Brasil". 

Como só acontece em intervenções urbanas de tamanha magnitude, o poder municipal "exigiu" uma contrapartida dos empreendedores: em troca do espaço público - a parte aérea da Avenida Praia de Belas -, a Prefeitura de Porto Alegre cobrou dos construtores, à guisa de "medida compensatória" para a cidade, o "plantio de 37 mudas", sabe-se lá de quê. Verdadeira exorbitância, convenhamos.

Placa na obra: tudo nos conformes

Não contente, contudo, em adonar-se do céu porto-alegrense, a empreiteira arrogou-se, também, o direito de decidir quem pode e quem não pode transitar pela quadra que vai da Rua Marcílio Dias à Rua Múcio Teixeira, no bairro Menino Deus, território da obra. 

Durante os três meses em que dois gigantescos guindastes içavam as pesadíssimas peças de concreto pré-moldado, para montar o lego macabro dos Sirotsky, peões eram escalados para bloquear o tráfego naquela via, transtornando a vida de moradores do bairro e de motoristas em geral.


Proibido atrapalhar a obra dos patrões do Lasier Martins

Ninguém pode passar. Nem a Prefeitura, para coletar o lixo

A prerrogativa legal de fiscalizar, orientar e controlar o trânsito nas ruas da capital gaúcha é da EPTC (Empresa Pública de Transporte e Circulação), uma autarquia municipal. No entanto, os "azuizinhos", como são chamados os agentes da EPTC, jamais deram as caras por ali. Exceto na tarde desta terça-feira, 26.

A quase-tragédia que ZERO HORA abafou

Eram pouco mais de 14h30 desta terça-feira quando uma enorme grua, com cerca de 25 metros de "altura", entornou sobre a Rua Marcílio Dias, arrebentando a cerca de ferro do Tribunal Regional do Trabalho e derrubando um poste, carregando consigo toda a fiação elétrica e telefônica. 

O equipamento estava sendo utilizado na obra do edifício-garagem da Maiojama/RBS e, ao tombar, feriu gravemente o trabalhador que o operava. 

Além disso, todo o bairro ficou sem energia elétrica, telefone, internet e TV a cabo. 
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Operário caiu sobre as grades do TRT

Ah, vira, virou!

Faltou luz? A culpa é do Tarso! 

Ao noticiar o acidente em sua edição online, o tabloide Zero Hora superou-se em matéria de desfaçatez, omitindo que o fato ocorrera em uma obra da Maiojama (vamos relevar a ignorância dos redatores, que revelaram desconhecer a diferença entre um guindaste e uma grua).

Como se fosse pouco, a gazetinha digital dos Sirotsky, tratou logo de transferir para a CEEE (Companhia Estadual de Distribuição de Energia Elétrica) o ônus pela falta de luz. 

Maiojama? Não conheço!

Não é a primeira vez que o conglomerado mafiomidiático dos Sirotsky faz lucrativos negócios com o grupo político que ocupa a Prefeitura de Porto Alegre.

Em setembro de 2007, o prefeito José Fogaça, que tempos depois abdicou para a posse de Fortunati, entregou, de graça, as instalações da Usina do Gasômetro (edifício símbolo da cidade) para uma "exposição comemorativa" dos 50 anos do Grupo RBS

Durante quase três meses, os cidadãos de Porto Alegre foram privados de seu mais importante centro cultural, ocupado que fora pela festinha de aniversário dos Al Capones da Notícia. 

Agora, com o tétrico monstrengo de aço atravessado na Av. Praia de Belas, a população de Porto Alegre é vítima de mais um vergonhoso esbulho. 

O pior é que, se cair - e não temos qualquer garantia de que o trambolho é seguro - já sabemos qual será a manchete de Zero Hora:

"Com parafusos frouxos, passarela desaba sobre avenida - Petista foi visto no local com uma chave de fenda na mão."


Postado no blog Cloaca News em 27/02/2013


Ajuris rebate editorial da RBS e questiona “o silêncio de Zero Hora”


Por meio de um editorial publicado no jornal Zero Hora desta quarta-feira (9/5), a RBS voltou a defender a criação de um sistema de previdência complementar para o funcionalismo estadual do Rio Grande do Sul. A Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (Ajuris) considerou o texto um “ataque à Magistratura gaúcha e os demais servidores estaduais”, ao chamar de “corporativista” quem é contrário a este modelo de privatização da previdência pública. O presidente da entidade, Pio Giovani Dresch, responde ao editorial por meio do artigo abaixo:
O Silêncio da Zero Hora
Diz a Zero Hora em editorial que os juízes e servidores públicos permanecem em silêncio corporativista sobre a previdência complementar – leia-se: privatização da previdência.
Não. A Zero Hora parece ter ouvidos seletivos, porque só o que a AJURIS tem feito há muitos anos é combater esta ideia. Pode, portanto, nos acusar de outras coisas, mas não de permanecer em silêncio.
Se isso é corporativismo é outra discussão. Podemos muito bem redarguir que ao longo desses anos ZH tem sido um veículo muito barulhento em defesa de um corporativismo de outra ordem, que quer a qualquer custo transferir os milionários recursos dos fundos previdenciários para grandes conglomerados financeiros.
Para isso, apresenta sempre só um lado da questão. Ignora desde sempre que o chamado déficit da previdência tem diversas causas outras, que não de natureza atuarial. Não se preocupa em investigar e divulgar quanto dinheiro da previdência foi desviado pelos governos para obras ou até mesmo destinações menos nobres. Não se preocupa igualmente em esclarecer que a conta do chamado déficit previdenciário é sempre agregada com os valores de programas sociais, de inegável valor, mas sem natureza previdenciária.
Outra coisa que nunca aparece em ZH é a informação sobre fundos previdenciários entregues a empresas privadas que quebraram em diferentes lugares do mundo – inclusive aqui ao lado, na Argentina e no Chile –, deixando ao abandono milhões de trabalhadores.
Não diz também por que milagre uma determinada alíquota, alegadamente insuficiente para compor um fundo público, possa render tão maravilhosos frutos num fundo privado.
Não será isto exatamente um silêncio corporativista? E, pior, vindo de quem exerce a função de bem informar?
Na verdade, questão de fundo é saber se a previdência deve ser pública ou privada. Nós, assim como milhões de trabalhadores deste país, confiamos que a previdência pública nos oferece para o futuro uma segurança que nenhum fundo privado oferece. Nunca sabemos onde explodirá a próxima bolha e quais serão suas vítimas.
Não temos dúvida de que os sistemas de previdência do país e do nosso estado passam por crises, e pretendemos contribuir com os governos na construção de um sistema seguro e autossustentável. Não somos adeptos do corporativismo burro, que, inflexível na defesa de privilégios, não percebe que caminha para o precipício, mas também não caímos em contos de sereia e nem aceitamos receitas prontas, apresentadas sem qualquer estudo sério que as sustente.
Vamos continuar nesta luta. Sem silêncios. Mas esperamos que a fala de ZH não seja seletiva, que não fique ela própria em silêncio nos pontos que não lhe interessa revelar.
Postado no blog RS Urgente em 10/05/2012