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Não quero te dizer em quem votar


Foto do quadro “Pátria”, de Pedro Bruno, 1919, representa a confecção da primeira Bandeira do Brasil. Pertence ao acervo do Museu da República, no Rio de Janeiro 



Longe de mim. Apenas te peço que vote sabendo das graves consequências do seu voto para pessoas que você ama, gosta, conhece.


Antonio Lassance*

Não quero te dizer em quem votar. Longe de mim. Apenas te peço que vote sabendo das graves consequências do seu voto para pessoas que você ama, gosta, conhece.

Vote para que um pai ou uma mãe, como eu, como você, possa continuar a ter o direito sagrado de abraçar e beijar seu filho ou sua filha, no meio da rua, em um shopping, na saída da faculdade, sem correr o risco de ser linchado por alguém que tenha um ataque violento de homofobia.

Vote para que as pessoas tenham o direito de serem diferentes, de serem o que bem entenderem. Vote para que elas possam andar por todos os cantos livremente, sendo o que são, sem serem hostilizadas, intimidadas, violentadas. Vote para que cada qual possa ter sua integridade garantida sem ter que fingir ser o que não é.

Vote para que as crianças sejam protegidas e não seja revogada ou menosprezada a lei que proíbe que elas sejam submetidas a castigos físicos violentos. 

Vote para que as crianças sejam ensinadas a repelir abusos e informadas a como agir para se defenderem, inclusive quando estão em seu espaço mais vulnerável: o lar. 

Vote para que o racismo, o uso da suástica, o feminicídio, a homofobia, a pedofilia, a cultura do estupro sejam coibidos, severamente punidos e, mais que isso, prevenidos. 

Vote para que professores tenham liberdade de exercitar o que aprenderam e que ensinem com base em livros de especialistas de suas áreas. Vote para garantir que eles não sejam patrulhados por grupos ideológicos que intimidam, ameaçam, e agridem professores cada vez mais. 

Vote para que livros sejam lidos e não rasgados. 

Vote para impedir que a política se torne o esporte de xingar, ameaçar e agredir. Vote para estimular que as pessoas lutem mais e briguem menos.

Vote para que as pessoas não se comportem como gado, como manada, como matilha, como horda.

Vote para que as pessoas direcionem sua raiva contra problemas, e não contra pessoas. Vote para que as pessoas sejam radicais por entenderem a raiz dos problemas, e não por serem extremistas e extremadas. 

Vote para que a verdade prevaleça sobre a mentira. Para que as pessoas sejam mais racionais e desconfiem de mensagens espalhafatosas, asquerosas e que induzem à raiva e a agressões. Vote para que as pessoas não confundam indignação com ódio. 

Vote para que todos se lembrem que religião é amor ao próximo, e não ódio, pena de morte, tortura e discriminação. 

Vote para que as pessoas aprendam que coragem não é ter uma arma na mão. 

Vote para que o Brasil possa um dia se mirar mais no exemplo de países que combateram o crime com igualdade e equidade.

Vote para que o Estado cumpra sua função social de ajudar prioritariamente a quem mais precisa, a quem não tem o que comer, onde morar, onde dormir, onde estudar, onde tratar sua saúde física e mental. 

Vote para que os governos gastem mais em educação, saúde, assistência social, meio ambiente e segurança pública do que com o pagamento de juros da dívida. Vote para que ricos paguem mais impostos, e a classe média e os pobres, menos.

Vote para que o combate à corrupção seja conduzido por organizações autônomas, e não por autômatos teleguiados por preferências partidárias.

Vote com espírito de justiça social, e não de vingança coletiva. 

Eu preparo meu voto como o poeta preparava aquela canção. Aquela em que pedia: "que faça acordar os homens e adormecer as crianças".

Mas eu preparo um voto que faça acordar todas as pessoas, não só os homens. E que faça adormecer, em paz, todas as crianças, não importando suas diferenças. As brancas, negras e indígenas. As do condomínio e as da favela. As que correm e as que andam em cadeira de rodas. As que escrevem com a mão direita e as que usam a mão esquerda. As que gostam de bola e as que preferem bonecas. 

A bandeira brasileira traz a insígnia "ordem e progresso". Apesar de inspirada no clássico lema positivista, a frase original e completa do filósofo Auguste Comte era a seguinte: 

"O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim". 

O lema de nossa bandeira, incompleto, mutilado de seu próprio coração, nos assombra ao longo de nossa história. Sempre quando nos esquecemos de que o amor é o princípio, meios e fins já não fazem o menor sentido.

É nossa sina, mais uma vez, lutar para escrever o que foi esquecido em nossa bandeira. 

Sem amor, não existe ordem nem progresso.

Essa é minha bandeira. Qual é a sua?


*Antonio Lassance é cientista político



Postado em Carta Maior em 14/10/2018



Nota

A expressão "Ordem e Progresso" é utilizada como lema na Bandeira Nacional do Brasil. Este é o lema nacional da República Federativa do Brasil a partir do momento de sua formação. A expressão "Ordem e Progresso" é a forma abreviada do lema político do positivismo, de autoria do positivista francês Auguste Comte.

O lema completo é:

"O AMOR POR PRINCÍPIO E A ORDEM POR BASE; O PROGRESSO POR FIM".

Em francês: “L'amour pour principe et l'ordre pour base; le progrès pour but”.

Seu sentido é a realização dos ideais republicanos: a busca de condições sociais básicas, como o respeito aos seres humanos, salários dignos etc.. e o melhoramento do país em termos materiais, intelectuais e, principalmente, morais.

Contudo, vemos que a palavra mais importante deste lema, aquela que impulsiona as seguintes, foi deixada de fora: o AMOR.

Paulo R. Simões



Castro Alves estaria defendendo hoje como ontem a Liberdade !







O poema Navio Negreiro, escrito em 1868, faz parte do livro “Os escravos”, de Castro Alves

Recitado pela primeira vez pelo autor, então com 21 anos, no Teatro São José, em São Paulo, tornando-se uma importante peça na campanha abolicionista que começava a ganhar corpo em todo o país. 

A última parte da poema fala da nossa Bandeira e a infâmia da Escravidão e da falta da Liberdade. 

Poderíamos transportar seus magníficos versos para descrevermos os dias 17 de Abril e 12 de Maio de 2016, quando senhores e senhoras do Congresso Brasileiro usaram nossa Bandeira, para justificarem, também, algo infame, o Golpe em nossa Democracia e em nossa Liberdade.






E existe um povo que a bandeira empresta

P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia! ...

E deixa-a transformar-se nessa festa

Em manto impuro de bacante fria! ...

Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,

Que impudente na gávea tripudia?! ...

Silêncio! ... Musa! chora, chora tanto

Que o pavilhão se lave no teu pranto ...


Auriverde pendão de minha terra,

Que a brisa do Brasil beija e balança,

Estandarte que a luz do sol encerra,

E as promessas divinas da esperança ...

Tu, que da liberdade após a guerra,

Foste hasteado dos heróis na lança,

Antes te houvessem roto na batalha,

Que servires a um povo de mortalha! ...


Fatalidade atroz que a mente esmaga!

Extingue nesta hora o brigue imundo

O trilho que Colombo abriu na vaga,

Como um íris no pélago profundo! ...

 Mas é infâmia de mais ... Da etérea plaga

Levantai-vos, heróis do Novo Mundo ...

Andrada! arranca este pendão dos ares!

Colombo! fecha a porta de teus mares!




Retrato do poeta e abolicionista brasileiro Castro Alves (1847-1871)

Arquivo ABL

Castro Alves é considerado um dos maiores poetas brasileiros.

Seus poemas estão entre os mais lidos no país. 

Grande parte deles se caracteriza pelo espírito humanista e pelo ideal de liberdade. 

Por sua luta abolicionista, tornou-se conhecido como “Poeta dos Escravos” e “Poeta da Abolição”.