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Atriz e ativista norte-americana Susan Sarandon discursou na manifestação a favor da Palestina no Washington Square Park




Publicado por Julio Cesar Silva

Sob chuva, a atriz e ativista norte-americana Susan Sarandon discursou na manifestação a favor da Palestina no Washington Square Park, em Nova York, neste sábado (2).

Para a multidão, ela fez duras críticas aos ataques israelenses aos civis em Gaza e Rafah e citou também as pessoas que fecham os olhos para a escalada do conflito no Oriente Médio.

“Nosso inimigo é o ódio, o racismo, a colonização. O inimigo é o silêncio de quem desvia o olhar. Falar verdades inconvenientes pode custar muito. Mas você não está sozinho. Ninguém é livre, até que todos nós sejamos livres. Palestina Livre!”, afirmou.

A atriz teve seu contrato recindido com a United Talent Agency (UTA) após uma sequência de discursos em defesa da população palestina no fim de 2023. Recentemente, Susan saiu em defesa das falas de Lula sobre o conflito em Gaza.

Confira o vídeo:


Postado em DCM


A saga de Jesus : o palestino perseguido por Israel


Cristo palestino na Igreja Luterana de Belém


Devido à sua origem palestina, Jesus também foi acusado de “terrorismo”, mesmo sem nunca ter utilizado qualquer tipo de arma. Era “persona non grata” em Israel.



Jesus nasceu em Belém, cidade localizada em um território palestino ilegalmente ocupado por Israel. Como a região não era amistosa para recém-nascidos, haja vista o crescente número de ataques israelenses que matavam, principalmente, crianças; os pais de Jesus – Maria e José – consideraram melhor migrar para o Egito. Na época, uma ministra de Israel, inclusive, chegou a afirmar estar orgulhosa com as “ruínas na Palestina” provocadas pelo exército israelense.

Aos 30 e poucos anos, depois de viver em diferentes campos de refugiados, Jesus voltou à região. Como muitos migrantes, foi tentar a sorte em Israel, mais precisamente em Jerusalém, outra área ilegalmente ocupada. A ele se juntaram doze indivíduos, depois chamados “discípulos”, também pertencentes à classe baixa. Por causa da origem humilde, eram constantemente importunados pela polícia. Além disso, por serem palestinos, tinham o status de cidadãos de segunda classe, assim como todos aqueles que não fossem brancos e israelenses. Com frequência eram acusados de formar uma “organização terrorista”.

Inconformado com a ordem vigente, Jesus, acompanhado de seus amigos, começou a pregar, pacificamente, em favor da justiça social, tanto em Israel quanto na Palestina. A princípio, as autoridades israelenses não levaram a sério os discursos de Jesus, consideravam só mais um “comunista”, “cabeludo utópico” e “subversivo”.

No entanto, à medida que cresceu a popularidade de Jesus entre os pobres, ele passou a incomodar os poderosos e os autointitulados “cidadãos de bem”. Seus discursos pacifistas contrastavam com as ideias de um conhecido líder que defendia o armamento da população, mais conhecido por seus fanáticos seguidores como “mito”.

Em duas ocasiões, como Israel proibiu a entrada de ajuda humanitária para os palestinos, Jesus promoveu a multiplicação de pães e peixes para alimentar as multidões que o acompanhavam. Os cidadãos de bem viram aquilo com desconfiança, pois, para eles, é melhor ensinar a pescar do que dar o peixe.

Certa vez, ao impedir que uma mulher acusada de adultério fosse apedrejada, Jesus foi rotulado como “defensor de bandido”. Um dos homens que ameaçou iniciar o apedrejamento chegou a dizer à mulher, supostamente adúltera, que só não a estuprava porque ela não merecia.

Ao visitar o templo de Jerusalém, Jesus observou a verdadeira face do uso comercial da religião. Um dos sacerdotes vendia águas ungidas, segundo ele, com propriedades que curavam doenças. Outro, comercializava toalhas supostamente milagrosas. Já um líder religioso, mais ousado, vendia terrenos no céu. Tal como na música de Zé Geraldo, naquele templo, Deus também não podia entrar. Em contrapartida, seu maior “rival”, Lúcifer, era sempre bem-vindo. Furioso, Jesus se esforçou para expulsar os vendilhões do templo.

Por lá também havia um estranho ritual de idolatria a uma espécie de roda primitiva (muitos séculos depois, com os avanços tecnológicos, os adeptos dessa seita passaram a ter outro objeto de culto: um pneu de caminhão).

Pelo histórico de Jesus em defesa da justiça social, denúncias do massacre de seu povo, gestos de caridade e falas constantes contra os ricos; parlamentares conservadores, integrantes do Movimento Israel Livre (MIL), propuseram a criação de uma CPI contra o palestino. Os “cidadãos de bem” não suportavam os atos de um “cidadão do bem”. Tornava-se inadmissível que um sujeito que não discriminava a “escória da sociedade” permanecesse impune.

No entanto, era preciso ir além! Desse modo, com o auxílio de Roma (a potência imperialista de então), para melhor perseguir Jesus, surgiu a “Operação Lava-pés” (em alusão ao rito praticado entre Jesus e seus discípulos). À frente da operação estava um juiz treinado pelos romanos, exclusivamente para forjar provas para condenar Jesus, por “tentativa de subverter a ordem” (mais tarde, pelos “bons serviços prestados”, ele seria alçado ao posto de ministro da Justiça de Israel).

Devido à sua origem palestina, Jesus também foi acusado de “terrorismo”, mesmo sem nunca ter utilizado qualquer tipo de arma.

Posteriormente, um dos discípulos – chamado Judas – acertou um acordo de delação premiada com a Operação Lava-pés, traindo Jesus. Para esse papel, ele recebeu trinta moedas (não por acaso, por tal atitude, Judas passou para a história como “o primeiro capitalista”).

Acusado de tentar subverter a ordem, Jesus foi levado a julgamento e, como esperavam os cidadãos de bem, foi condenado à pena máxima: crucificação. Mesmo sem provas, mas com convicções.

Antes de ser crucificado, por pressão dos anteriormente citados seguidores do mito, Jesus passou por várias sessões de tortura. Soube-se que, anos depois, no parlamento israelense, o mito se referiu ao militar que comandou aquelas sessões de tortura como “o pavor de Jesus”.

Ao finalizar a leitura da sentença, o juiz afirmou categoricamente que Jesus era “persona non grata” em Israel.

Já durante a Via-Crúcis, Jesus foi bastante hostilizado por pessoas que vestiam as cores nacionais de Israel (azul e branco) e tinham como hábito um estranho culto de dançar em torno de um pato dourado.

Do mesmo modo, aqueles indivíduos que tentavam atenuar o sofrimento do palestino injustamente condenado, ouviam xingamentos típicos do cidadão de bem: “passando pano para bandido”, “tá com pena leva pra casa”, “mimimi” e “defensor dos direitos dos manos”.

No Calvário, outros dois homens foram crucificados ao lado de Jesus: Dimas e Gestas (o “bom” e o “mau” ladrão, respectivamente). O primeiro era um palestino condenado por roubar alimentos em um comércio israelenses para dar o que comer à sua família. Gestas, um rico agiota, só foi condenado por ter se indisposto com alguns poderosos de Israel (seus antigos comparsas).

Por fim, às 15 horas de uma sexta-feira, Jesus faleceu na cruz. Os cidadãos de bem, em êxtase, comemoram durante dias. Afinal de contas, para eles, “bandido bom é bandido morto”.









Lula acertou de novo / Coletivo de judeus publica nota em apoio às falas de Lula sobre massacre em Gaza


Lula e Benjamin Netanyahu (Foto: Ricardo Stuckert

Lula acerta ao dizer que não há na História nada semelhante ao que está acontecendo na Faixa de Gaza, a não ser “quando Hitler resolveu matar judeus”

Aline Alves

A declaração do presidente Lula sobre a investida de Israel sobre o povo palestino, realizada ontem na Etiópia, não deveria ser convertida em polêmica tantas décadas depois dos horrores da Segunda Guerra Mundial, se houvesse alguma honestidade intelectual por parte dos críticos. Hollywood explorou à exaustão o tema do nazismo, e isso poderia ter servido à conscientização geral sobre o assunto, mas o resultado foi a mercantilização da barbárie, a banalização da violência, e um desconhecimento sobre o nazismo e o Terceiro Heich, que foram reduzidos a inimigos derrotados da América.

Não pretendo aqui dar conta de descrever o que foi o nazismo, em razão da sua densa complexidade, apenas lembrar de elementos científicos – para que não restem dúvidas, ainda mais em um tempo em que é preciso resgatar a ciência para que ela volte a ter significado para o desenvolvimento humano – que demonstram que Lula acerta em sua declaração sobre a situação da Palestina, ao dizer que não há na História nada semelhante ao que está acontecendo na Faixa de Gaza, a não ser “quando Hitler resolveu matar judeus”. A mídia hegemônica, assim como Hollywood, em seu empenho em deseducar mais do que promover um real debate, prontamente rejeitou a comparação entre Israel e a Alemanha nazista, no entanto a História mostra que não há aqui nenhum equívoco. Em Reactionary modernism: technology, culture and politics in Weimer and the Third Reich, o historiador Jeffrey Herf apresenta sua análise sobre o nazismo e observa que ele é construído sobre dois pilares, grosso modo: a regressão e a modernidade, posta à disposição da primeira. A Alemanha nazista contava com alta tecnologia para desenvolver o que precisava para realizar o projeto do Terceiro Reich: resgatar os tempos do império alemão e cumprir sua utopia racial. Leitor de Adorno e Hoeckheimer, Jeffrey Herf identifica no nazismo a “dialética da modernidade” quando aponta que o avanço da ciência, em vez de promover o desenvolvimento humano, muitas vezes promoveu regressão. Isso está nítido nas malhas ferroviárias alemãs sendo usadas para transportar judeus, ciganos, gays, comunistas, deficientes físicos para os campos de extermínio, na tecnologia aplicada ao cinema em serviço da propaganda nazista e no potencial bélico utilizado para atacar os inimigos do Reich.

Dos mesmos recursos dispõe o Estado de Israel, e da mesma forma os utiliza: tecnologia altamente avançada (tivemos, inclusive, uma ideia desse avanço quando a ABIN paralela usou aparelhos de espionagem israelense) utilizada para a eugenia, que parece dar o tom do que seria a pátria ideal para judeus, concepção essa adotada por parte desse Estado de Israel e de setores do sionismo radical (importantíssimo lembrar aqui que essa não é a concepção geral da comunidade judaica, que tem em grande parte se manifestado criticamente em relação aos ataques de Israel contra os palestinos, sofrendo, inclusive, severas retaliações pelo mundo, como é o exemplo do jornalista Breno Altman). É com essa tecnologia que, aos olhos de todo o mundo, mais de 30 mil palestinos foram assassinados por Israel desde outubro passado, sendo 40% das vítimas crianças. Esse número é importante para compreendermos que não há espaço aqui para tergiversar; a mídia hegemônica tem dito que não cabe a comparação entre a Alemanha nazista e o atual Estado de Israel, uma vez que ele não tem um projeto eugênico. Fica o questionamento: quem consegue matar 30 mil pessoas em 4 meses apenas para se defender? Quem, em legítima defesa, mata algumas dezenas de opositores (no caso, integrantes do Hamas) e cerca de 12 mil crianças? Como um Estado com técnicas tão avançadas erra o alvo 30 mil vezes, isso sem contar com os feridos? Como um Estado que se defende mantém suas cidades de pé, enquanto o território do adversário tem 95% da população desabrigada?

O que estamos testemunhando é a exata utilização de técnica avançada para a realização de limpeza étnica, com o propósito de se construir uma utopia racial que, desta vez, só é possível se o povo palestino não existir mais. É o resgate de um passado mítico que confere a um povo uma suposta superioridade, se coloca como a única forma possível de vida na terra, e que exige o extermínio de tudo e todos que não se incluam nessa raça e seu passado. Como esse tipo de racismo se estabeleceu como princípio do sionismo mais radical é uma questão que pode e deve ser analisada com mais profundidade, até para que sejamos capazes de evitar uma nova onda de ódio aos judeus, e também para que não nos percamos do debate científico e honesto. Mas o ponto a que quero chegar aqui é que Lula acertou ao criticar o ataque do Hamas aos kibutz israelenses, e acerta novamente em condenar o genocídio promovido por Israel contra os palestinos; acerta também ao compará-lo a outro momento histórico, o do nazismo, com o qual compartilha métodos e objetivos. E acerta sobretudo ao fazê-lo diante de todo o mundo, como o líder cujo vulto alcança todos os cantos do planeta. Acredito que poderíamos fazer apenas uma observação sobre um ponto da fala de Lula, se o que está acontecendo no presente já se repetiu em outro momento histórico além do nazismo, e lembraríamos, por exemplo, da devastação colonial pela qual passaram a América Latina, África e Oriente Médio; podemos ir mais atrás e lembrar da Inquisição Católica, das Cruzadas, do Império Romano. Mas sem esquecer que nenhum desses episódios contou com tanta sofisticação técnico-científica quanto a que estamos testemunhando neste exato momento.


 Aline Alves é professora, escritora e artista plástica. Doutora em Teoria Literária pela UFRJ.






Coletivo de judeus publica nota em apoio às falas de Lula sobre massacre em Gaza


O coletivo Vozes Judaicas por Libertação publicou uma carta em apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que virou alvo de críticas por suas falas sobre o ataque de Israel contra os palestinos na Faixa de Gaza.

No último domingo (18), em entrevista coletiva antes de deixar a Etiópia rumo ao Brasil, Lula comparou o massacre promovido pelas forças militares de Israel contra a Faixa de Gaza ao Holocausto promovido pela Alemanha nazista contra os judeus na Segunda Guerra Mundial. "O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus", afirmou o presidente.

Após a fala, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, anunciou, nesta segunda-feira (19), que Lula seria considerado "persona non grata" no país. O termo é um instrumento jurídico utilizado nas relações internacionais para indicar que um representante oficial estrangeiro não é bem-vindo.

Para o coletivo Vozes Judaicas por Libertação, é impossível comparar e hierarquizar genocídios, dado que a “a experiência vivenciada por cada povo afetado é inigualável”. Ao mesmo tempo, no entanto, "a contradição de o povo judaico ser ora vítima e agora algoz é palpável, tenebrosa e desalentadora. Lula externou o que está no imaginário de muitos de nós".

O grupo ainda afirma que “enquanto coletivo de judias e judeus, temos antepassados que foram vítimas do Holocausto nazista, e entendemos que nosso imperativo ético é nos posicionarmos contra o genocídio do povo palestino e contra a utilização da nossa defesa como justificativa”.

Confira a carta na íntegra:
Dando um passo além nas contínuas denúncias dos crimes cometidos por Israel contra os palestinos, o presidente Lula causou furor ao fazer uma comparação entre o que ocorre hoje em Gaza e o que Hitler fez com os judeus durante o nazismo.

A comparação entre genocídios é sempre delicada pois a experiência vivenciada por cada povo afetado é inigualável. Cada um representa uma narrativa singular e dolorosa na história das comunidades vitimadas. Logo, não há como estabelecer qualquer hierarquia entre genocídios. É impossível estabelecer uma métrica objetiva para determinar o 'pior' genocídio da história. Categorizar historicamente vítimas maiores ou menores é uma perigosa armadilha de reprodução de racismo.

A contradição de o povo judaico ser ora vítima e agora algoz é palpável, tenebrosa e desalentadora. Lula externou o que está no imaginário de muitos de nós. Uma comparação que causa muita dor a judias e judeus de todo mundo, que tiveram as suas vidas cindidas pelo genocídio dos judeus na Europa, e agora veem um crime similar sendo cometido, supostamente em seu nome. Enquanto coletivo de judias e judeus, temos antepassados que foram vítimas do Holocausto nazista, e entendemos que nosso imperativo ético é nos posicionarmos contra o genocídio do povo palestino e contra a utilização da nossa defesa como justificativa.

Se a criação e fundação de um Estado judaico foi uma medida de sobrevivência num mundo sitiado, ela logo se tornou um pesadelo. O Estado de Israel não trouxe emancipação verdadeira aos judeus pois a sua existência é mantida às custas da negação da autodeterminação dos palestinos. As lideranças israelenses seguem promovendo um massacre contra palestinos e ainda ameaçam a vida de judeus e judias em todo o mundo. Israel representa hoje a maior fonte de insegurança para todos os judeus do planeta ao usar nossa identidade como fachada e justificativa para sua campanha de terror.

Por isso, defendemos e acreditamos que as palavras de Lula são de grande importância pois levantam questões relacionadas à urgência da ação, como um chamado definitivo dirigido a todos para agir diante do que ocorre em Gaza neste momento. Frente à incapacidade da ONU e de várias organizações internacionais em conter a violência perpetrada por Israel em Gaza, destaca-se a importância vital da postura demonstrada por líderes internacionais como Lula, que levantam suas vozes contra o que é já considerado por incontáveis especialistas como um genocídio contra o povo palestino.

As palavras têm poder. Se a forma como Lula se expressou na ocasião foi pouco cuidadosa – tropeçando justamente neste ninho de comparações forçadas – sua fala tem o objetivo de atingir a imaginação e provocar uma crise moral sobre Israel. O pedido de impeachment protocolado pelos deputados bolsonaristas é uma medida descabida, assim como as acusações de antissemitismo – cujo real objetivo é deslegitimar o governo e a diplomacia brasileira. Não acreditamos que judeus brasileiros estão em risco por causa de sua declaração.

Apoiamos as colocações do presidente Lula e cobramos que a radicalidade de suas palavras seja colocada em prática. Seria um gesto diplomático de relevância gigantesca romper todas as relações entre o estado brasileiro e Israel, em especial as relações militares que também fortalecem a barbárie em terras brasileiras, com a compra de armas e tecnologias de controle social que são usadas para atingir a vida do povo negro nas favelas. Convocar o embaixador brasileiro em Tel Aviv foi um passo ainda insuficiente nessa direção.

Por fim, convidamos a todas e todos, mas principalmente ao governo brasileiro a atender as demandas do movimento internacional de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), liderado pelas bases da sociedade civil palestina. O povo palestino tem pressa e nossas ações têm poder."

Edição: Lucas Estanislau

 

Postado em Brasil de Fato


 



O martírio do Povo Palestino

 



Ativar a legenda em Português no vídeo, caso não consiga a legenda por aqui, assista o video direto no Youtube.




Norman Gary Finkelstein é um cientista político norte-americano. Graduado pela Universidade do Estado de Nova Iorque em Binghamton, estudou posteriormente na École Pratique des Hautes Études, em Paris, e obteve seu doutorado em Ciência Política na Universidade Princeton. Wikipédia

Nota: 

Recomendo o documentário Nascido em Gaza na Netflix com legenda em espanhol. Veja e se posicione !

( Rosa Maria - editora do Blog )


Num dia ... No outro ...




"Num dia, eram só crianças a caminho do futuro. No outro, são crianças sem futuro a caminho. 

Num dia, eram só mães a dizer aos filhos até logo. No outro, são mães sem saber o que dizer. Sem saber quanto tempo vai demorar essa despedida.

 Num dia, eram só rapazes a combinar sair com os amigos. No outro, são rapazes sem saída à espera dos inimigos.

 Num dia, eram só homens a regressar a casa do trabalho. No outro, são homens sem casa a que regressar.

 Eram só pais a dar a mão aos filhos para atravessar a estrada, agora são pais a quem arrancam os filhos das mãos e as estradas já não se deixam caminhar. 

Num dia, no outro. Da noite para o dia, escureceu e a manhã ainda não rompeu."

Elisabete Bárbara






Israel x Hamas : crianças não fazem Guerra Santa



Que as crianças palestinas e israelenses possam viver a vida em abundância que Jesus prometeu a todas as pessoas


Por Simony dos Anjos  11.10.2023 13H17

“Não pode existir guerra santa, isso é uma contradição em termos”. Essa frase foi dita por Renato Russo, em 1994. Russo também é autor da música Canção do Senhor da Guerra, letra que tem acompanhado minhas reflexões, nesta última semana.





Agentes da paz ( Israel e Palestina )





Anabela Pucynski


Moro em Israel há 34 anos. Longos quando penso nas inúmeras vezes em que fui perguntada porque abandonei o Brasil, e o que motivou minha vida para cá. Tenho respostas que foram mudando, ao correr dos anos. No cerne da questão, a única certeza é de queria uma mudança em minha vida.

Fui atraída por Israel, porque gostaria de rever o pais que houvera conhecido, somente por dois meses. Apesar de ter uma formação judia, não tenho apego a nenhuma religião, sou fundamentalmente contra a luta por ocupação de terras, e nem justifico o sacrifício de inocentes.

Costumo dizer que sou uma pessoa privilegiada. Gosto do pluralismo, das diferenças que, a meu ver, se completam. De que meu primeiro grande amigo, em Israel, tenha sido um palestino. De que tenha tido como companheiras de classe duas árabes cristãs, com as quais dividi experiencias e incertezas profissionais. De que eu, inicie, em pouco tempo, um trabalho com uma ONG que agrega jovens israelenses e palestinos. De que meu mais novo aluno seja árabe e compartilhe comigo sentimentos de rejeição por parte de seus colegas.

Meu privilégio vem do fato de que colho os frutos certos pelo caminho. Em que sei que um diálogo franco ,e sem rótulos, me ajuda a colocar uma pequena pedra na construção de um mundo que não divida, mas que seja apenas parte de uma casa que abrigue a todos. O lugar do ódio é para aqueles que se outorgam desafiar a grandeza da vida, no seu presente.

A mim cabe celebrar o fortuna das diferenças, no belo em que consiste o aprender de não se estar só. A paz só virá dos que se concentrem em ações positivas, sejam na crítica ou no pragmatismo a seus feitos. Um brinde aos muitos que permeiam a mesma vontade e decisão. Aos agentes da paz, sem nome, que construirão o futuro.

De Israel, Shabbat Shalom. Sejamos corajosos em nossa escolha para o bom, não importando as vozes retaliadoras que se interponham pelo caminho.


Anabela Pucynski   ANABELA PUCYNSKI

Blogueira e escreve sobre cultura, temas sociais e política brasileira e israelense




Postado em Brasil247 em 02/02/2018














Na Palestina ocupada, menina de dez anos é jornalista





Jornal GGN – Com apenas dez anos, a jovem Janna Jihad não é mais criança. Na Palestina ocupada por Israel ela faz questão de se colocar no centro dos acontecimentos e registrar tudo para que o mundo veja.

A mais nova jornalista da Palestina (e provavelmente do mundo) começou a trabalhar quando um amigo seu, outro da família e um tio foram mortos a tiros pelas Forças de Ocupação Israelenses (IOF). Ela tinha apenas sete anos.
“Depois eu abandonei o medo e a timidez e decidi documentar todas as violações das IOF em qualquer lugar que eu visitasse; então fiz vídeos no celular e os comentos em inglês e em árabe, para mostrar as violações por parte dos israelenses que a mídia internacional não mostra e para dar a possibilidade para todo o mundo de saber mais sobre a atividade israelense nos territórios palestinos”, contou em entrevista para o site Sputinik.

A jornalista palestina de 10 anos conta sua história à agência Sputnik.

Janna Jihad, a mais nova jornalista da Palestina, disse à agência Sputnik que as forças de ocupação israelenses (IOF, em inglês) tinham matado o seu amigo e um amigo da sua família e que isso foi um momento decisivo de sua vida. Foi por isso que ela começou trabalhando como jornalista, mostrando as violações e a violência de Israel na Palestina. Ela acrescenta que ela quer se tornar jornalista em uma das agências internacionais que, segundo ela, não transmitem informação verdadeira e não dão uma imagem real da Palestina. É por isso que ela quer mudar isso. 

Sputnik: Como foi que você começou trabalhando como jornalista? O que é que levou você a isso? 

Janna Jihad: Comecei há três anos quando eu tinha 7. Eu participei de manifestações perto da nossa casa em Ramallah, por exemplo na manifestação de Nabi Salih (um profeta da Arábia antiga) na aldeia de Nabi Salih. Isto foi uma manifestação contra o novo assentamento israelense na área. Nossa casa era a primeira na zona de entrada para a aldeia, as IOF sempre chegam a esse ponto. Eu sempre gostei de jornalismo desde a minha infância; comecei a participar das manifestações com o celular da minha mãe e a comentar o que eu estava filmando, mostrando os ataques israelenses contra os participantes de manifestações. Com ajuda da minha mãe eu consegui publicar esses vídeos em redes sociais, o que me inspirou a continuar. 

S: Qual foi o momento decisivo que fez você trabalhar como uma jornalista que está sempre presente no centro dos eventos?

JJ: Foi quando as IOF mataram o meu amigo, outro amigo da minha família e o meu tio (eles foram mortos a tiros) à frente dos meus olhos quando eu tinha 7. É que eles me influenciaram. Depois eu abandonei o medo e a timidez e decidi documentar todas as violações das IOF em qualquer lugar que eu visitasse; então fiz vídeos no celular e os comentos em inglês e em árabe, para mostrar as violações por parte dos israelenses que a mídia internacional não mostra e para dar a possibilidade para todo o mundo de saber mais sobre a atividade israelense nos territórios palestinos. 

S: Como você na sua idade conseguiu estar familiarizada com toda a informação da causa palestina para utiliza-la nas reportagens?

JJ: Eu assisti as manifestações contra as colônias israelenses na aldeia de Nabi Salih desde que eu tinha 3 anos; vivi nessa atmosfera. Dado que a nossa casa é a primeira da entrada para a aldeia, nós recebíamos sempre pessoas feridas pelas IOF, além delas assaltarem constantemente a nossa casa. Tudo isso formou aos meus conhecimentos sobre os acontecimentos. Além disso, eu sempre pergunto a minha mãe e meu tio que trabalha na mídia sobre os assuntos que eu não sei para que eles sejam incluídos nos meus vídeos. 

S: Porque é que você utiliza o inglês nas reportagens? Onde você o estudou? É que ajuda a relatar para um público alargado? 

JJ: Primeiramente eu nasci nos EUA mas eu vivi lá só durante três meses. Depois eu cheguei para a Palestina. Eu estudei na escola americana na cidade de Ramallah e aprendi inglês muito bem e meus pais tentam aumentar o meu nível da língua. Acho que os materiais em inglês vão atrair mais pessoas do que os em árabe. Depois eu me dirijo aos palestinos e árabes que vivem nos países ocidentais para que eles saibam o que está acontecendo na Palestina. É assim que estou aumentando o nível do meu inglês para transmitir a minha mensagem ao mundo. 

S: Quais são seus futuros objetivos e ambições? Será que você continuará trabalhando na cobertura do que se passa aí?

JJ: Quando for grande queria me tornar jornalista e trabalhar para uma das agências internacionais. Tudo isso é porque a mídia não diz a verdade sobre as violações nos territórios da Palestina. Quero corrigir isso e mostrar imagens verdadeiras dos eventos. Eu também quero me tornar jogadora de futebol e representar a Palestina em fóruns internacionais e jogos de futebol.

Postado em Luis Nassif Online em 17/06/2016





Boicote a Israel não é discurso contra judeus




Carlos Latuff


Falta com a verdade a Confederação Israelita do Brasil – CONIB quando diz em nota que a campanha contra o apartheid israelense é obra de “grupos de ódio que pregam o boicote cego a Israel”, que Caetano Veloso “sucumbiu” a uma suposta “onda antissemita” e que “se fez cego diante da incitação ao terrorismo e ao ódio contra os judeus”. 

A nota também fala de “negociações de paz” e “causa da paz”, como se paz fosse o que o governo israelense na figura do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu – בנימין נתניהו buscasse.

A CONIB omite o fato de que Netanyahu a cada dia constrói mais colônias israelenses em território palestino, e que tem em seu gabinete figuras como a secretária de justiça Ayelet Shaked, que no Facebook fez clamores abertos ao genocídio de palestinos e chamou os filhos de mães palestinas de “pequenas cobras”. 

A CONIB também ignora que em 2012, durante a “Operação Pilar de Defesa”, onde bombardeios israelenses à Faixa de Gaza vitimaram civis palestinos, o então ministro do interior Eli Yishai disse que as forças de Israel deveriam “mandar Gaza de volta a Idade Média”.

Curioso que a CONIB faça menção a “incitação ao terrorismo” nessa nota, mas que também tenha “esquecido” de que o estado de Israel foi imposto aos árabes através de ações violentas de organizações terroristas judaicas como Haganah, Stern Gang e Irgun, esta inclusive responsável por um caminhão bomba que atingiu o hotel King David em Jerusalém em 1946.

A nota da CONIB ainda afirma que Caetano quis “ver apenas um lado da questão”. Se esse lado é o dos palestinos, então Caetano fez muito bem, porque é o lado mais fraco, é o lado que tem suas casas demolidas para a construção de assentamentos israelenses, o lado de quem tem seu direito de ir e vir cerceado por incontáveis checkpoints, o lado de quem tem suas crianças e jovens fuzilados nas ruas ou presos pela máquina de repressão israelense.

Israel tem a seu lado os Estados Unidos, que na ONU impede que qualquer sanção seja tomada contra as inúmeras violações de direitos humanos, fartamente documentadas inclusive por ONGs israelenses.

Israel tem força aérea, naval, terrestre, armas nucleares, bilhões de dólares de Washington. E os palestinos, o que tem? Quem os apoia nesse conflito desigual? 

Portanto, a campanha BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) é mais que justa. Deu certo contra o apartheid sul-africano, tem dado certo contra o apartheid israelense, tanto assim que organizações como a CONIB, que são correias de transmissão das políticas israelenses no Brasil, acusam a campanha de boicote de “antissemitismo”, numa tentativa de criminalizar a iniciativa.

Caetano Veloso e Gilberto Gil não deveriam, em primeiro lugar, participar desse show em Israel. Foram inúmeros os apelos, inclusive os meus.

Mas de todo modo, se a viagem aos territórios ocupados da Cisjordânia fez com que Caetano abrisse os olhos para as atrocidades do regime israelense, menos mal, antes tarde do que nunca, e que mais artistas engrossem o coro dos que defendem a auto-determinação do povo palestino.


* Carlos Latuff é Cartunista.


Postado no Sul21 em 10/11/2015


















Os palestinos nos livros escolares de Israel : como se faz a desumanização de um povo




 


Neste documentário, Nurit Peled-Elhanan fala de sua pesquisa relacionada com o conteúdo dos livros didáticos de Israel.

Ela expõe em detalhes como estes livros são elaborados com o objetivo de desumanizar o povo palestino e fomentar nos jovens estudantes israelenses a base de preconceitos que lhes permitirá atuar de forma cruel e insensível com o mesmo durante o serviço militar.


Postado no Docverdade em 19/06/2015


Dia Internacional da Solidariedade ao Povo Palestino



Palestinos recebem a solidariedade dos povos do mundo


No Ano Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino e nas vésperas do 29 de novembro, Dia Internacional comemorado pelo mesmo motivo, a Organização das Nações Unidas (ONU) debateu a causa palestina e a ocupação em importante sessão na última segunda-feira (24) e na terça-feira (25). Os palestinos pretendem pedir ao Conselho de Segurança uma resolução estabelecendo um prazo para o fim da ocupação, mas preocupam-se com a oposição certeira e o veto dos EUA.

Ainda assim, uma série de posicionamentos tem acelerado o processo de afirmação da solidariedade internacional ao povo palestino. O regime israelense isola-se exponencialmente e cada vez mais líderes têm sido forçados a tomar posições contra os repetidos massacres perpetrados por Israel e contra a ocupação, opressiva e despojadora, dos territórios e das vidas dos palestinos.

É possível traçar o histórico recente de medidas que reconhecem as violações dos direitos dos palestinos – desde os direitos humanos mais básicos até os direitos afirmados pela ONU sobre o estabelecimento do Estado da Palestina e do retorno dos refugiados. Desde 2012, com altos e baixos preocupantes, o mundo passou do reconhecimento do Estado palestino por mais de 130 países para a condenação das políticas de ocupação, tanto com o regime de segregação e opressão imposto aos palestinos em seu próprio território e em Israel quanto com a construção de colônias ilegais e a gradual expulsão dos palestinos de Jerusalém. 

Em 2013, a União Europeia, aliada do regime sionista e negligente frente aos seus crimes, passou a emitir “diretrizes” contra o comércio e as relações com as colônias ilegais. Já no mês passado, a Suécia votou pelo reconhecimento do Estado da Palestina, o primeiro passo do tipo tomado por um dos grandes países do bloco europeu. França, Espanha e Reino Unido, importantes aliados do regime israelense, também levaram a questão aos seus Parlamentos, um momento histórico, ainda que muito falte ser feito. As relações estreitas desses governos com a liderança sionista ainda são predominantes nos campos comercial, político e militar. 

Os recentes episódios do massacre dos palestinos foram os mais de 50 dias de bombardeios contra a Faixa de Gaza (em julho e agosto), a abrangente ofensiva militar contra a Cisjordânia e os confrontos em Jerusalém, que despertaram nos povos do mundo a revolta contra a ocupação e as agressões sionistas contra os palestinos, estratégica, cínica e deliberadamente fantasiadas de “conflito religioso”.

Milhões de pessoas saíram às ruas em todo o mundo, principalmente nos países vistos como aliados de Israel, como Reino Unido, França e EUA, para exigir o fim do massacre dos palestinos e da impunidade israelense. O Conselho de Direitos Humanos da ONU votou por uma comissão de inquérito sobre os crimes de guerra do sionismo – com um único voto negativo, o dos EUA – e a Suíça, depositária da 4ª Convenção de Genebra sobre a proteção de civis em tempos de guerra e de ocupação, deve organizar uma conferência sobre a questão palestina ainda em dezembro, proposta que desperta a oposição de Israel, EUA, Canadá e Austrália.

Enquanto isso, a comunidade internacional intensifica esforços há muito pendentes pelo fim de uma longa história de massacres, ocupação, despojo e expulsão, em cada vez crescente demonstração de solidariedade internacional com o povo palestino e repúdio veemente à política racista, genocida e fundamentalista da liderança sionista, reminiscente dos movimentos colonialistas e um instrumento do imperialismo que lhe sustenta na Palestina.


Postado no site Vermelho em 27/11/2014






"Chorava escondido para pacientes não verem", diz médica brasileira em Gaza



Liliana esteve em Gaza em 2012 e retornou à região no início do mês


Há dois anos, a médica brasileira Liliana Mesquita Andrade esteve na Faixa de Gaza e cuidou de várias crianças. Desta vez, durante o conflito mais violento entre Israel e Palestina nos últimos anos, foram poucas.

“Infelizmente, as crianças são a parte mais frágil da guerra. Já chegavam mortas ou quase mortas”, conta a anestesista, de 39 anos.

Pacientes cobertos por poeira, pessoas morando no hospital por medo de voltar para casa e trabalhar com o barulho de bombas são imagens que marcaram a experiência da médica no conflito – que somou 50 dias de combate e deixou mais de 2,2 mil mortos.

“Na primeira noite no hospital ouvi explosões, senti as coisas tremerem”, afirmou à BBC Brasil por telefone, da Faixa de Gaza, onde está desde o dia 7 de agosto.

“Você tem que chorar escondido, porque os pacientes não podem ver que está com medo. Comecei a rezar e pedir que as coisas se acalmassem.”

Mas, em meio ao conflito, Liliana teve um reencontro emocionante: passou uma tarde com um menino de 4 anos que havia atendido em 2012, quando a criança foi atingida por bombas. “Nunca achei que fosse revê-lo. É muito gratificante, não tem dinheiro no mundo que pague.”

Leia abaixo trechos da entrevista:

BBC Brasil – Foram 50 dias de combate e o conflito mais violento desde 2007. O que mais te marcou?

Liliana Mesquita Andrade - A coisa que mais me impressionou não foi a questão propriamente médica, mas ver milhares de pessoas morando no hospital porque o consideravam um lugar mais seguro. Na época que cheguei aqui tinha 2 mil pessoas no hospital, mas não pacientes. Eram pessoas morando nas instalações do hospital, no estacionamento, no jardim, nas escadas.

Também vi muitas crianças que haviam perdido toda a família e outras extremamente feridas, lesões muito diferentes. Por exemplo, recebi uma menina com uma fratura no fêmur na raiz da coxa devido às explosões. A energia necessária pra gerar uma fratura daquela é uma coisa extremamente rara, só mesmo num contexto muito violento.

Essa criança chegou no hospital suja, completamente suja daquela poeira cinzenta de desmoronamento que tem aqui, no Iraque, na Síria. Eles chegavam ou com poeira cinza ou com poeira negra, de fuligem, queimadura. Você não tem tempo nem para perguntar o que houve: tem que agir rápido, porque o tempo que perde conversando pode custar a vida do paciente.

BBC Brasil – Você sentiu medo?

Liliana Mesquita Andrade - Por mais que você venha em um misto de coragem, desprendimento, amor ao próximo e amor à medicina, você tem medo também. Na primeira noite no hospital ouvi explosões, senti as coisas tremerem. Tive que chorar sozinha, porque você não pode demonstrar que está com medo, principalmente para o paciente. Você começa a rezar e pedir para que o cessar-fogo chegue e que as coisas se acalmem.

BBC Brasil – Como você se protegia?

Liliana Mesquita Andrade - O que era recomendado era que ficássemos sempre juntos e dentro do hospital. O centro cirúrgico é um lugar muito fechado, não tem janela, e a gente está tão concentrado na gravidade do paciente que às vezes nem ouvia as explosões.

Na casa tinha um quarto de segurança, com uma localização mais central. Quando tinha bomba a gente ia para lá e ficávamos todos juntos.

BBC Brasil – O bloqueio afetava seu trabalho e sua vida?

Liliana Mesquita Andrade - Claro que no auge da guerra pode ter ficado mais difícil, mas não a nível de prejudicar o atendimento. Nem sempre as condições eram 100%, mas tinha o suficiente para dar para o paciente.

Só a nossa locomoção ficava prejudicada. Tinha que sair todo mundo junto e voltar junto, sempre num carro identificado pelo Médicos Sem Fronteiras, sem ser blindado. Era proibido sair da casa, o tempo todo era casa-hospital, hospital-casa.

BBC Brasil – Como foi a decisão de ir para a Faixa de Gaza em meio ao conflito?

Liliana Mesquita Andrade - Foi a decisão mais difícil que tive que tomar. Eu ia para o Afeganistão, é minha 8ª missão no Médicos Sem Fonteiras, mas me pediram para trocar e acabei vindo pela segunda vez para a Faixa de Gaza. Estou nas férias, tenho trabalho no Brasil, mas me programo todo ano pra vir.

Minha família estava extremamente preocupada. Minha irmã pediu pra eu não vir porque já perdemos nossos pais e nosso irmão caçula. Não foi fácil. Mas eu sou muito católica e acho que Deus acaba sempre protegendo todo mundo que faz esse tipo de trabalho.

Estudei pra aliviar o sofrimento, como anestesista. Não importa onde você esteja, você tem que ajudar. Independentemente se é aqui, no Brasil, no Iêmem, no Paquistão, você tem que ajudar.

BBC Brasil – Reencontrou alguém que já tinha conhecido em Gaza?

Liliana Mesquita Andrade - Reencontrei uma criança que há dois anos tinha sido vítima de um explosão e tinha queimaduras no rosto, na mão, nos braços. Tratei dela em um projeto de cirurgia plástica reconstrutora. A cada dois ou três dias precisava de anestesia e eu tinha muito contato com ele. No meu último dia ele, que não falava uma palavra de inglês, olhou pra mim e falou I love you, Lili.

Quando cheguei aqui a primeira coisa que perguntei foi sobre ele. Me falaram que continuava fazendo tratamento, ele ainda tem muitas queimaduras. E ele veio me visitar. Foi a maior surpresa. Comecei a chorar e ele ficou todo envergonhado. Ele lembrava de mim, veio direto no meu colo. O pai disse que ele se recusa a fazer novas cirurgias, porque já sofreu muito, e a família está muito preocupada.

Dei lápis de cera pra ele, brincamos. Essa foi a única tarde em que realmente tive férias. Ao final, perguntei: “Still love me?” E ele falou “I love you” outra vez. É muito gratificante, não tem dinheiro no mundo que pague isso.

BBC Brasil – Como foi a reação ao cessar-fogo?

Liliana Mesquita Andrade - Estávamos todos muito ansiosos pelo cessar-fogo e eu chorei muito, fico até emocionada de falar com você. Parecia final de Copa do Mundo. A alegria deles foi igual à final de Copa no Brasil.

BBC Brasil – Falando em Brasil, é possível fazer alguma comparação entre a situação de Gaza e a do Rio, que muitos consideram uma “guerra urbana”?

Liliana Mesquita Andrade - Ao mesmo tempo em que estava tendo bombas aqui, minha irmã saiu do trabalho um dia no Rio, foi pegar minha sobrinha numa rua em que havia uma favela próxima e estava fechada. Haviam colocado fogo num ônibus, ninguém podia passar. Brinquei com ela: quem está mais em risco, você no Rio, por causa dos traficantes, ou eu na Faixa de Gaza?

BBC Brasil – Você voltaria para a Faixa de Gaza?

Liliana Mesquita Andrade – Com certeza.


Postado no blog Diário do Centro do Mundo em 31/08/2014


A possível extinção do Estado de Israel


8/3/2013: Jovem manifestante palestino Un manifestante palestino foge dos guardas de fronteira israelense, durante confrontos contra a expropriação de terras palestinas em Kafr Qaddum
Jovem manifestante palestino foge dos guardas de fronteira israelense, durante confronto contra a expropriação de terras palestinas em Kafr Qaddum

Criá-lo foi ato desumano de colonialismo. Extinto, pode dar lugar a Estado plurinacional e secular, onde judeus e palestinos convivam pacífica e dignamente


Boaventura de Sousa Santos

Podem simples cidadãos de todo o mundo organizar-se para propor em todas as instâncias de jurisdição universal possíveis uma ação popular contra o Estado de Israel no sentido de ser declarada a sua extinção, enquanto Estado judaico, não apenas por ao longo da sua existência ter cometido reiteradamente crimes contra a humanidade, mas sobretudo por a sua própria constituição, enquanto Estado judaico, constituir um crime contra a humanidade? Podem.

E como este tipo de crime não prescreve, estão a tempo de o fazer. Eis os argumentos e as soluções para restituir aos judeus e palestinianos e ao mundo em geral a dignidade que lhes foi roubada por um dos atos mais violentos do colonialismo europeu no século XX, secundado pelo imperialismo norte-americano e pela má consciência europeia desde o fim da segunda guerra mundial.

O termo sionismo designa o movimento que apoia o “regresso” dos judeus à sua suposta pátria de que também supostamente foram expulsos no século V AC. Há, no entanto, que distinguir entre sionismo judaico e sionismo cristão. 

O sionismo judaico tem origem no antissemitismo que desgraçadamente sempre perseguiu os judeus na Europa e que viria a culminar no holocausto nazi. 

O sonho de Theodor Herzl, judeu austríaco e grande proponente do sionismo, era a criação, não de um Estado judaico, mas de uma pátria segura para os judeus. 

O sionismo cristão, por sua vez, é antissemita, e a ideia de um Estado judaico deveu-se a políticos britânicos, sionistas e anglicanos devotos, como Lord Shaftesbury, que, acima de tudo, desejavam ver o seu país livre dos judeus-enquanto-judeus. Eram tolerados os judeus cristianizados (como Benjamin Disraeli, que chegou a ser Primeiro Ministro), mas só esses. Esta tolerância estava de acordo com a profecia cristã de que é destino dos judeus converterem-se ao cristianismo. 

O mesmo sentimento se encontra hoje entre os evangélicos norte-americanos, que apoiam Israel como Estado judaico, bem como a sua desapiedada expansão colonialista contra os palestinianos, por acreditarem que a redenção total ocorrerá no fim dos tempos, com a conversão dos judeus na Parusia (o regresso de Jesus Cristo).

Terá sido Lord Shaftesbury quem, ainda no século XIX, formulou o pensamento “uma terra sem povo para um povo sem terra” que ajudaria mais tarde a justificar a criação do Estado de Israel na Palestina em 1948. 

E alguns anos mais tarde, foi outro sionista não judeu (Arthur James Balfour) quem propôs a criação de “uma pátria para os judeus” na Palestina, sem consultar os povos árabes que habitavam esse território há mais de mil anos.

“Os Grandes Poderes” (Áustria, Rússia, França, Inglaterra), lê-se no Memorandum Balfour de 11 de Agosto de 1919, “estão comprometidos com o Sionismo. 

E o Sionismo, correto ou incorreto, bom ou mau, tem as suas raízes em antiquíssimas tradições, em necessidades atuais e em esperanças futuras, que são bem mais importantes do que os desejos de 700.000 árabes que neste momento habitam aquele antigo território”.

Urgia, pois, transformar esses árabes em um não-povo. Em 1948, com o beneplácito dos poderes ocidentais, especialmente da Inglaterra, foi criado o Estado de Israel numa Palestina povoada de árabes e 10% de judeus imigrantes.

Argumentava-se então que havia de se encontrar um espaço para o povo judeu, que ninguém queria receber depois do genocídio alemão. 

Muito antes dessa catástrofe, os sionistas judeus tinham já pensado em vários locais para o seu futuro Estado. No final do século XIX, a região do Uganda, no que é hoje o Quénia, então colónia inglesa, foi ponderada como um possível local para o futuro Estado de Israel. Um espaço na Argentina chegou também a ser considerado. Mais tarde, auscultado sobre um local no norte de África (no que é hoje a Líbia), o rei da Itália, Victor Emmanuel, terá recusado, respondendo: “Ma è ancora casa di altri”. 

Mas nenhum europeu, por mais preocupado com a situação dos judeus, jamais pensou num lugar dentro da própria Europa.

Havia que inventar-se “uma terra sem povo para um povo sem terra”. Mesmo que fosse necessário obliterar um povo. E assim se vem paulatinamente eliminando um povo da face da terra desde há sessenta e seis anos. 

A Cisjordânia palestiniana vem sendo desmantelada pelos colonatos ilegais e a Faixa de Gaza transformada em prisão a céu aberto. 

A extrema-direita israelita é apenas mais estridente do que o governo ao reclamar que os “árabes fedorentos de Gaza sejam lançados ao mar”.

O que é espantoso, comenta o historiador judeu israelita, Ilan Pappé em The Ethnic Cleansing of Palestine (2006), é ver como os judeus, em 1948, há tão pouco tempo expulsos das suas casas, espoliados dos seus pertences e por fim exterminados, procederam sem pestanejar à destruição de aldeias palestinianas, com expulsão dos seus habitantes e massacre daqueles que se recusaram a sair. 

O controverso comentário de José Saramago de há alguns anos de que o espírito de Auschwitz se reproduz em Israel faz hoje mais do que nunca.

Assim foi sacrificada a Palestina, invocadas razões bíblicas e históricas, que a Bíblia não sanciona e a história viria a desmistificar. 

Muitos judeus, como os que constituem a Jewish Voice for Peace, não são sionistas e consideram que o Estado de Israel, nas condições em que foi criado (um território, um povo, uma língua, uma religião) é uma arcaica aberração [3] colonialista fundada no mito de uma “terra de Israel” e de um “povo judaico”, que a Bíblia nem sequer confirma.

Como bem demonstra, entre outros, o historiador judeu israelita, Shlomo Sand, a Palestina como a “terra de Israel” é uma invenção recente (The Invention of the Land of Israel, 2012). Aliás, ainda segundo o mesmo autor, também o conceito de “povo judaico” é uma invenção recente (The Invention of the Jewish People, 2009).

A criação do Estado judaico de Israel configura um crime continuado cujos abismos mais desumanos se revelam nos dias de hoje. 

Declarada a sua extinção, os cidadãos do mundo propõem a criação na Palestina de um Estado secular, plurinacional e intercultural, onde judeus e palestinianos possam viver pacifica e dignamente. 

A dignidade do mundo está hoje hipotecada à dignidade da convivência entre palestinianos e judeus.


Boaventura de Sousa Santos é doutor em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale, professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, diretor dos Centro de Estudos Sociais e do Centro de Documentação 25 de Abril, e Coordenador Científico do Observatório Permanente da Justiça Portuguesa - todos da Universidade de Coimbra. 
Sua trajetória recente é marcada pela proximidade com os movimentos organizadores e participantes do Fórum Social Mundial e pela participação na coordenação de uma obra coletiva de pesquisa denominada Reinventar a Emancipação Social: Para Novos Manifestos.

Postado no site Outras Palavras em 22/08/2014