Solteira e feliz


Para quem sabe aproveitar, a solidão pode ser o encontro com a felicidade

Embora muita gente diga que a solidão é um dos grandes males do mundo contemporâneo e a associe a problemas típicos de nosso tempo, como a depressão e a infelicidade, o filósofo Jelson Oliveira, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e autor do livro A Solidão como Virtude Moral em Nietzsche (editora Champagnt), defende justamente o contrário. Ele explica que uma das marcas de nosso tempo é o fenômeno da multidão. Segundo ele, a multidão empurra o indivíduo para o fosso da vontade geral, no qual ele tende a esquecer de si mesmo. Ou seja, é justamente a falta de solidão que gera as patologias de comportamento.

É aí que chegamos ao que ele chama de “a boa solidão”. Não se trata da solidão que decreta o rompimento com o mundo, aquela da fuga por medo das relações, aquela solidão magoada e ressentida. “Trata-se de uma postura voluntária, de busca pelo silêncio e pelo recolhimento ao ambiente no qual reconquistamos a nós mesmos e, a partir daí, podemos ir ao mundo e estabelecer relações mais maduras”, explica Jelson.


Isso mesmo, momentos de solidão nos preparam para construirmos relações mais saudáveis com outras pessoas. Segundo Jelson, na vida social, tendemos a nos sujar: acumular opiniões que não são nossas, deixar de lado nossas convicções para sermos aceito pelos demais, assumindo linguagens e comportamentos que não são nossos. “A solidão, nesse sentido, é profilática: ela nos ajuda a continuar saudáveis e, só assim, seremos bons amigos, bons irmãos, bons colegas de trabalho etc”, conclui o filósofo.



Para quem ainda tem dificuldade de mudar o sinal da solidão, de negativo para positivo, ele diz que o segredo é revesti-la de alegria. E dá algumas dicas de como fazer isso: “Deve-se fechar a porta de casa, respirar fundo, colocar uma boa música, abrir, quem sabe, um bom vinho, ler um livro, olhar a paisagem pela janela, rezar pelo sol, alimentar um canarinho, rabiscar um poema... É dessas pequenas gotinhas de solidão que se faz uma vida feliz”.



Sim, eu sou autossuficiente!

A tendência de crescimento da parcela de mulheres que vive sozinha foi também notada pela doutora em antropologia Mirian Goldenberg. Professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), nas últimas décadas, ela tem acompanhado de perto o universo feminino em suas pesquisas que deram origem a livros como Os novos desejos, Intimidade e Por que homens e mulheres traem?. “Em minhas pesquisas, tenho notado que viver sozinha passou a ser uma alternativa legítima para as mulheres, o que não era até pouco tempo atrás”, diz Mirian.


Mudou também o enfoque. “Viver sozinha passou a ser uma escolha e não está mais relacionado à ideia de rejeição, abandono e solidão. Ao contrário, agora essa condição é associada a independência, autonomia e liberdade”, explica a antropóloga. Ela explica que esse é um comportamento já bastante consolidado em países europeus, como a Alemanha, e começa a ganhar força por aqui também.


A conquista da independência financeira está contribuindo para isso, claro. Mas Mirian aponta ainda outros fatores: o maior nível de escolarização e informação do público feminino; a lei do divórcio; a desestigmatização da mulher solteira e o surgimento de novos modelos conjugais, que não se resumem apenas ao casamento tradicional.


A nova mulher

O estereótipo da mulher mudou e ele cresce cada dia mais. São donas de seu nariz, conquistaram a independência financeira, não aceitam qualquer coisa e ainda não encontraram o companheiro ideal para dividir o mesmo teto – ou até encontraram, mas a união não deu certo e se separaram. Infelicidade? Engano seu! 


Elas encaram a vida de solteira numa boa. “As mulheres estão se casando cada vez mais tarde e sua principal prioridade no início da vida adulta é a carreira”, afirma Bruno Maletta, sócio do Sophia Mind, instituto de pesquisa especializado no público feminino. “A conquista do espaço profissional e da independência financeira alimenta fortemente a autoestima da mulher. Com isso, ela se torna mais seletiva na escolha de um companheiro”, complementa a psicoterapeuta Dorli Kamkhagi, do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 


Trocando em miúdos o que dizem Bruno e Dorli, é aquela velha história do “antes só do que mal-acompanhada”. Agora, você ainda concorda com aquela música que diz que é " impossível ser feliz sozinho"?

Postado no blog Uma Mulher em 14/05/2012

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