Mensalão, Cachoeira, Ditadura e Comissão da Verdade


Pode-se fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo.
Eis uma incrível lição da teoria da complexidade.
Eu, por exemplo, sou historiador (formado pela PUCRS), jornalista, escritor e doutor em sociologia (formado pela Sorbonne).
Nas horas vagas, marco muitos gols e escrevo poesia.
Como historiador, desencavo o passado.
Como sociólogo, interpreto o presente.
Como jornalista, corro atrás das notícias.
Como escritor, descrevo a vida.
Neste momento, sem qualquer obstáculo, analiso nos meus diferentes espaços os quatro grandes temas de interesse nacional: o julgamento do mensalão, a CPI do Cachoeira, o inventário da ditadura e a Comissão da Verdade.
A Comissão da Verdade é, de longe, o assunto mais relevante de 2012.
Fico rindo sozinho ao ver que alguns só querem falar do mensalão.
Coincidentemente são os mesmos que não querem falar da ditadura e da Comissão da Verdade.
E justamente os que não gastaram uma linha para detonar Demóstenes Torres e Cachoeira.
Os mesmos que não falaram nem se indignaram com as revelações do livro Privataria Tucana.
Do outro lado, claro, há os que só falam dos crimes do Dem e dos tucanos.
Tentam apagar o mensalão.
Um franco-atirador como eu se sente à vontade.
Os mensaleiros devem pegar cana braba.
Mensaleiros de todos os partidos.
Torturadores devem ser julgados.
Os crimes da guerrilha, por exemplo, execuções e justiçamentos, são hediondos.
Só que os seus praticantes foram julgados, punidos ou executados.
É por isso que o foco recai sobre o  chamado  “outro lado”, o lado não julgado nem punido.
Tentar dizer que se deve falar do mensalão e não da Comissão da Verdade é manobra diversionista.
Confissão ideológica.
O momento é de falar de tudo isso ao mesmo tempo.
O mensalão como caixa dois de campanha é condenável.
Trapaça com dinheiro público que deve levar gente à cadeia.
Dito isso, cabe uma pergunta, pois o intelectual deve fazer as perguntas que incomodam, as perguntas que chocam, as perguntas que tiram do sério: quantos petistas enriqueceram pessoalmente com o mensalão?
Muitos?
Poucos?
Nenhum?
Quais?
Isso é atenuante?
Agravante?
Outra pergunta: colocar o julgamento do mensalão, cujo processo dorme nas gavetas do STF, antes das eleições é:
a) Coincidência
b) Manobra política e ideológica
c) Imposição técnica?
Tentar adiar o julgamento do mensalão é:
a) Desejo de impunidade
b) Busca de equilíbrio diante dos pleitos municipais
c) Tentar sair da armadilha do STF articulado com a oposição?
Não tenho respostas.
Um intelectual vive mais de perguntas.

Postado no Blog Juremir Machado da Silva em 05/06/2012

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